Estudo randomizado controlado por placebo do uso de baixa dose de tamoxifeno para prevenção de recorrência de neoplasias mamárias não invasivas: 10 anos de Follow-up do estudo TAM-01

Atualizado em 10/04/2023

Matteo Lazzeroni, MD1; Matteo Puntoni, PhD2; Aliana Guerrieri-Gonzaga, MSc1; Davide Serrano, MD1; Luca Boni, MD3; Tania Buttiron Webber, RN4; Marianna Fava, PhD4; Irene M. Briata, MSc4; Livia Giordano, MD5; Maria Digennaro, MD6; Laura Cortesi, MD7; Fabio Falcini, MD8,9; Patrizia Serra, PhD9; Franca Avino, MD10; Francesco Millo, MD11; Katia Cagossi, MD12; Elisa Gallerani, MD13; Alessia De Simone, MD14; Anna Cariello, MD15; Giuseppe Aprile, MD16; Maria Renne, MD17;Bernardo Bonanni, MD1; Andrea DeCensi, MD1,4,18


ascopubs.org/journal/jco 2023 Mar;14: DOI https://doi.org/10.1200/JCO.22.02900


O estudo TAM-01 foi um estudo de fase III em mulheres com hiperplasia ductal atípica (HDA), carcinoma lobular in situ (CLIS) e carcinoma ductal in situ (CDIS) com uso quimiopreventor de tamoxifeno de baixa dose (5mg) uma vez ao dia por 3 anos, mostrando uma redução da recorrência em 50% e sem apresentar eventos adversos excessivos. Desde então, as Diretrizes de Prática Clínica da ASCO e o US Preventative Services Task Force incluíram o tamoxifeno de baixa dose como uma opção para prevenção em mulheres com alto risco de câncer de mama.


O presente estudo relata as análises de 10 anos do ensaio TAM-01 para avaliar a durabilidade do efeito e a segurança a longo prazo associada a 3 anos de tamoxifeno 5mg por dia.


Foi realizado um acompanhamento adicional de até 10 anos, com visita clínica anual ou contato telefônico e mamografia em 500 mulheres (20% com HDA, 11% com CLIS e 69% com CDIS) que foram randomizadas para receber tamoxifeno 5mg por dia ou placebo durante 3 anos. As análises estatísticas seguiram relatos anteriores.


Os resultados mostram que o tamoxifeno de baixa dose reduziu pela metade a recorrência sem eventos adversos excessivos, resultando em um perfil de custo-benefício mais favorável do que 20 mg uma vez ao dia.


Houve uma redução significativa de 50% na recorrência com tamoxifeno no grupo CDIS, que representa 70% da população total. A maioria das recorrências foi invasiva (77%) e ipsilateral (59%). Não houve evidência de diferentes estágios e biologia de tumores no braço do tamoxifeno em comparação com o braço do placebo.


O número necessário para tratar para prevenir um caso de evento de mama com a terapia de tamoxifeno foi de 22 em 5 anos e 14 em 10 anos.


Os eventos adversos foram relatados em ambos grupos, com uma taxa um pouco maior no grupo tamoxifeno de baixa dose. No entanto, os eventos adversos graves foram semelhantes entre os grupos.


No relatório inicial de 2019, foi descrito uma redução significativa de 52% no risco de recorrência de câncer de mama com uma dose diária única de 5 mg de tamoxifeno administrada por 3 anos após um diagnóstico de neoplasia intraepitelial. Além disso, o tamoxifeno de baixa dose também mostrou uma redução significativa na incidência de câncer de mama contralateral. É importante ressaltar que a redução na recorrência com o tamoxifeno foi consistente em todos os subgrupos de pacientes, incluindo idade, menopausa, tipo histológico e extensão da doença.


Em particular, a redução de 50% na recorrência de CDIS com o tamoxifeno de baixa dose é especialmente importante, já que a maioria dos casos de câncer de mama é diagnosticada no estágio invasivo, e o CDIS é um estágio pré-invasivo do câncer de mama que pode se tornar invasivo. Portanto, o uso de tamoxifeno de baixa dose pode ser uma estratégia importante para prevenir a progressão de CDIS para câncer de mama invasivo.


O perfil de segurança do tamoxifeno de baixa dose também é encorajador, já que não houve aumento significativo na incidência de eventos adversos graves em comparação com o placebo. No entanto, é importante observar que a análise de 10 anos relatada neste estudo não avaliou todos os possíveis efeitos colaterais a longo prazo do tamoxifeno de baixa dose, como risco de tromboembolismo venoso e eventos cardiovasculares, que exigem estudos adicionais de acompanhamento a longo prazo.


Embora o tamoxifeno de baixa dose tenha sido considerado como uma opção terapêutica para mulheres após a doença não invasiva em várias diretrizes clínicas, o uso de terapia preventiva com tamoxifeno de baixa dose ainda não é amplamente aceito na prática clínica. Isso pode ser devido à falta de conscientização sobre a eficácia e segurança do tamoxifeno de baixa dose, bem como ao medo de possíveis efeitos colaterais. No entanto, os resultados do estudo TAM-01 sugerem que o tamoxifeno de 5mg por dia pode ser uma opção terapêutica viável e segura para mulheres com lesões pré-cancerosas de alto risco.


Sendo assim, o estudo TAM-01 demonstrou que o tamoxifeno de baixa dose por três anos reduziu significativamente a recorrência de câncer de mama em mulheres com HDA, CLIS e CDIS, sem aumentar a incidência de eventos adversos graves. Esses resultados fornecem suporte adicional para as diretrizes atuais recomendarem o tamoxifeno de baixa dose após o CDIS se o paciente apresentar sintomas na dose de 20 mg uma vez ao dia ou se o paciente estiver relutante ou incapaz de tomar a dose padrão.


Autor(a)

Renata de Tassis Pares
Membro da comissão de Educação Continuada da SBM-SP

- Mastologista com residência de Mastologia no Hospital Pérola Byington e título de especialista em mastologia pela SBM.
- Estágio em Cirurgia Mamária pelo Hospital Memorial Sloan Kettering Cancer Center nos EUA.
- Preceptora de Mastologia da Faculdade de Medicina das Américas.
- Mastologista dos Hospitais Santa Catarina e Oswaldo Cruz.
- Trabalha com Imagem mamária nos laboratórios Salomão Zoppi e Isa.

Coautor(a)

Lincon Jo Mori
Coordenador da Comissão de Educação Continuada da SBM-SP

- Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP);
- Chefe de uma das Equipes Cirúrgicas da Residência de Mastologia e Médico Titular do Núcleo de Mastologia Hospital Sírio-Libânes.