O impacto da coesividade do implante mamário no rippling e procedimentos de revisão na reconstrução mamária pré-peitoral em duas etapas

Atualizado em 15/05/2024

     Embora a abordagem com prótese subpeitoral tenha sido historicamente a mais comum, estudos recentes demonstram que a abordagem pré-peitoral é uma alternativa segura e confiável. O posicionamento pré-peitoral da prótese em uma paciente adequada pode reduzir a dor pós-operatória, eliminar a deformidade de animação e mitigar o desconforto funcional em comparação com a reconstrução subpeitoral. No entanto, esses benefícios são às vezes contrabalançados por achados de aumento da incidência de rippling pós-operatório, frequentemente associados ao tipo de mastectomia, tamanho menor do implante e retalhos de pele mais finos. A hipótese desse estudo é que a coesividade do implante também pode desempenhar um papel crítico.


     A coesividade, uma característica do gel de silicone encontrado dentro dos implantes mamários, refere-se à estabilidade de forma do gel, ou seja, à capacidade de um implante de manter sua forma e dimensões independentemente da posição. Um gel menos coesivo é menos reticulado e mais elástico; um gel mais coesivo é mais reticulado e menos elástico. Isso é clinicamente relevante, pois acredita-se que os implantes mais coesivos proporcionam um contorno superior aprimorado na posição vertical, principalmente devido à diminuição da redistribuição do gel para a porção inferior, permitindo assim um maior controle sobre a distribuição de volume para produzir uma forma estética. Há dados limitados sobre a associação entre coesividade e rippling na prótese pré-peitoral. O objetivo deste estudo foi comparar a incidência de rippling e reoperação com lipoenxertia em relação à coesividade do implante. A hipótese é que a maior estabilidade de forma dos implantes altamente coesivos minimizará o rippling no polo superior na reconstrução mamária pré-peitoral e resultará em menos reoperações para lipoenxertia.


      Esse estudo trata-se de uma coorte retrospectiva de mulheres que haviam sido submetidas à reconstrução pré-peitoral em duas etapas após mastectomia para determinar o efeito da coesividade do implante no rippling pós-operatório e reoperação para lipoenxertia. Em um total de 129 pacientes, todas as pacientes receberam implantes mamários de silicone Natrelle (Allergan, Santa Bárbara, Califórnia). 52 (40%) pacientes receberam implantes Responsive (ou seja, TruForm 1 ou menos coesivo), 24 (19%) pacientes receberam implantes SoftTouch (ou seja, TruForm 2 ou moderadamente coesivo) e 53 (41%) pacientes receberam implantes Cohesive (ou seja, TruForm 3 ou mais coesivo). A idade média foi de 48,5 anos. O IMC médio foi de 25,31.


     As pacientes foram acompanhadas por uma média de 463 dias após a colocação do implante permanente na segunda etapa. 36 pacientes (28%) experimentaram rippling após o implante, 72 (56%) receberam lipoenxertia no momento da remoção do expansor, 14 (11%) receberam lipoenxertia na cirurgia de terceiro estágio após a colocação do implante. Não houve correlação significativa entre idade e IMC com em relação à coesividade do implante. Independentemente das pacientes terem sido submetidas a lipoenxertia no momento da colocação do implante, aquelas que receberam os implantes moderadamente coesos (OR 0.30, p<0.05) e mais coesivos (OR 0.39, p<0.05) tiveram menor probabilidade de apresentar rippling em comparação com quem recebeu o implante menos coeso.


    Pacientes que receberam o implante mais coeso, independentemente de receberem lipoenxertia no momento da colocação do implante, tiveram menor probabilidade de necessitar sessões adicionais de lipoenxertia após a colocação do implante quando comparadas com aquelas que receberam moderadamente coeso ou menos coeso. As pacientes que receberam o implante menos coeso tiveram uma probabilidade significativamente maior de serem submetidos a lipoenxertia em tereceira etapa (11 dos 35 pacientes - 31%, p<0.05).


Os autores concluem que, apesar de uma coorte retrospectiva, o estudo demonstra que o uso de implantes altamente coesivos está significativamente associado a menos complicações de rippling e procedimentos de revisão. Esses dados sugerem que os implantes altamente coesivos podem conferir um maior valor às pacientes submetidas à reconstrução pré-peitoral ao reduzir a necessidade de procedimentos de revisão.



Autor(a)

Paulo Tenório
Médico Mastologista pela FMUSP/SP

Mastologista do Programa Cuidar do Hospital Israelita Albert Einstein; Mastologista da Clínica Femi em Alphaville/SP; Membro da Comissão de Educação Continuada da Sociedade Brasileira de Mastologia-SP