Fatores Associados à Doença Axilar Adicional em Pacientes com Linfonodos Sentinela Positivos Após Quimioterapia Neoadjuvante para Câncer de Mama

Atualizado em 13/05/2024

A presença de doença residual após a quimioterapia neoadjuvante, especialmente nos linfonodos axilares, apresenta desafios devido a preocupação quanto a resistência quimioterápica e subestimação da carga nodal. Estudos retrospectivos investigaram o envolvimento adicional de linfonodos não LS após a neoadjuvância, relatando taxas de positividade variando de 44% a 62%. O objetivo desse estudo foi investigar se o volume da doença residual do LS ou outros fatores clinicopatológicos correlacionam-se com o envolvimento adicional de linfonodos não LS no manejo contemporâneo do câncer de mama.


Trata-se de uma revisão retrospectiva entre 2018 a 2023. Foram identificadas pacientes com câncer de mama que receberam neoadjuvância e tinham linfonodos positivos na biópsia do LS ou na dissecção axilar seletiva e foram submetidos a dissecção axilar completa final. Foram incluídos 122 pacientes com idade média de 48 anos e 65,6% estavam na pré-menopausa. O subtipo foi RE+/HER2- em 66,4%, HER2+ em 18,0% e triplo negativo em 15,6%. A maioria eram cT2-3. Antes da neoadjuvância, 12,3% eram cN0 e 87,7% eram cN1. O número médio de LS removidos foi de 3 e o número médio de LS positivos foi de 1. O número médio de não-SLN removidos foi de 9. O envolvimento adicional do não-SLN estava presente nas amostras de dissecção axilar final de 43,4%. O envolvimento adicional do não-SLN foi encontrado em 1/3 pacientes (33,3%) com células isoladas em LS, 4/23 pacientes (17,4%) com micrometástases em LS e 48/96 pacientes (50,0%) com macrometástases em LS (P = 0,017). Em análise univariada, houve taxas significativamente mais altas de não-SLN positivos entre pacientes que tinham linfonodos clinicamente positivos, subtipo RE+/HER2-, tumor residual grande na mama (ypT2-3), macrometástases em LS e mais de um LS positivo. Na análise multivariada, os linfonodos clinicamente positivos e o subtipo RE+ HER2- estavam significativamente associados à positividade do não-SLN. Houve uma tendência a uma maior positividade do não-SLN em pacientes pré-menopausadas, sem significância estatística. O envolvimento adicional do não-SLN não foi associado à histologia, grau, Ki-67, multifocalidade/multicentricidade ou invasão linfovascular.


Este estudo chega a conclusão que 43,4% dos pacientes com doença residual do LS após neoadjuvância tiveram envolvimento adicional do não-SLN na dissecção axilar final. A taxa de positividade do não-SLN foi significativamente menor em pacientes com celular isoladas/micrometástases de LS em comparação com macrometástases de LS (19,2% vs 50,0%). Aqueles que eram RE+ HER2- e clinicamente positivos para linfonodos tinham maior probabilidade de terem não-SLN positivos. Tumor residual grande na mama, macrometástases de LS e múltiplos SLN positivos também foram associados à positividade do não-SLN na análise univariada, mas não permaneceram significativos na análise multivariada.


Ainda não há evidências de nível I sobre recorrência após a omissão da dissecção axilar, portanto, esta permanece o padrão de cuidado atual para doença residual do LS após neoadjuvância. O ensaio clínico randomizado Alliance A011202 está atualmente comparando a recorrência após radioterapia axilar versus dissecção axilar em pacientes com LS positivo após neoadjuvância. Enquanto aguardamos os resultados desse ensaio, esse estudo fornece informações importantes sobre a probabilidade de envolvimento adicional do não-SLN que podem ajudar a identificar subgrupos de pacientes com doença residual do LS após neoadjuvância que podem ser poupados da dissecção axilar definitiva.


Quanto as limitações deste estudo, os autores incluiram o fato de ser um desenho retrospectivo de instituição única e o pequeno tamanho da amostra. Devido o curto acompanhamento, a recorrência não foi um desfecho primário, e o número de pacientes que tiveram recorrência foi insuficiente para analisar fatores associados à recorrência neste estudo.




Autor(a)

Paulo Tenório
Médico Mastologista pela FMUSP/SP

Mastologista do Programa Cuidar do Hospital Israelita Albert Einstein; Mastologista da Clínica Femi em Alphaville/SP; Membro da Comissão de Educação Continuada da Sociedade Brasileira de Mastologia-SP