Linfócitos infiltrantes de tumor em pacientes com câncer de mama triplo-negativo em estágio I não tratados com quimioterapia

Atualizado em 01/07/2024

Embora o TNBC seja conhecido por seu comportamento agressivo e recorrências precoces, o prognóstico para o TNBC em estágio inicial pode ser semelhante ao subtipo de luminal mais indolente. Este achado indica que existe um grupo substancial de pacientes com excelente resultado, especialmente quando uma resposta patológica completa é alcançada com quimioterapia neoadjuvante ou quando o tumor abriga altos níveis de linfócitos infiltrantes de tumor estromal (sTILs). O benefício absoluto da quimioterapia neoadjuvante ou adjuvante para pacientes com doença em estágio I (T1N0M0) não é claro, uma vez que ensaios clínicos prospectivos que avaliam a quimioterapia frequentemente excluem estes pacientes. Em múltiplas coortes pequenas e retrospectivas, a quimioterapia adjuvante foi associada à melhora da sobrevida global (OS), à sobrevida específica do câncer de mama (BCSS) e à sobrevida livre de recorrência para pacientes com tumor pT1c. Em contraste, pacientes com tumores pT1a têm excelente sobrevida após a cirurgia isoladamente, sem benefício adicional substancial da quimioterapia adjuvante. Para tumores pT1b, os dados sobre a magnitude do benefício da quimioterapia adjuvante são conflitantes.


A decisão de administrar quimioterapia neoadjuvante ou adjuvante baseia-se principalmente no tamanho do tumor. Faltam biomarcadores para uso na seleção de pacientes com TNBC para os quais a quimioterapia pode ser omitida com segurança. Diante disso, o objetivo desse estudo foi avaliar os desfechos de pacientes com TNBC em estágio I e que não receberam quimioterapia, de acordo com os níveis de sTIL.


Foram analisados os níveis de sTIL foram determinados em 1.041 pacientes com TNBC estágio I diagnosticados em 33 centros de patologia na Holanda. Idade média 64 anos e 8,6% pT1a, 38,7% pT1b e 52,6% pT1c. 74,4% tinham níveis de sTIL abaixo de 30%, 25,6% tinham 30% ou mais, 19,5% tinham 50% ou mais e 13,5% tinham 75% ou mais. O acompanhamento médio foi de 11,4 anos.


BCSS e TILs na coorte geral


pT1ab tiveram um desfecho mais favorável do que pacientes com tumores pT1c (HR, 0,47; IC 95%, 0,32-0,72). O BCSS de 10 anos foi de 92% para pT1ab e 86% para pT1c. sTIL de pelo menos 30% foram associados a um melhor BCSS em comparação com níveis de sTIL inferiores a 30% (HR, 0,45; IC 95%, 0,26-0,77), com BCSS de 10 anos de 96% e 87%, respectivamente.


BCSS e TILs em pacientes com tumores pTab e pT1c


Um nível de sTIL de 30% ou mais não foi associado com melhora do BCSS em comparação com um nível baixo de sTIL inferior a 30% em pacientes com tumor pT1ab (HR, 0,93; IC 95%, 0,44-1,94). Em contraste, pT1c com nível de sTIL de 30% ou superior em comparação com um nível inferior a 30% (HR, 0,24; IC de 95%, 0,10-0,60), bem como um nível de 50% ou superior versus inferior a 50% (HR, 0,27; IC 95%, 0,10-0,74) apresentaram melhor resultado, com um excelente BCSS de 95% em 10 anos (IC 95%, 0,89%-1,00%).


Sobrevivência geral


Na coorte geral, um nível de sTIL de pelo menos 30% foi associado a uma melhor OS em comparação com um nível inferior a 30% (HR, 0,64; IC 95%, 0,49-0,84). Níveis elevados de sTIL não foram associados a melhor OS em pacientes com tumores pT1ab. pT1c com níveis de sTIL iguais ou superiores a 30% tiveram melhor OS em comparação com pacientes com níveis inferiores a 30% (HR, 0,65; IC 95%, 0,46-0,91).


Como conclusão, este estudo demonstra um BCSS em 10 anos de 96% para todos os pacientes com TNBC estágio I com um nível de sTIL de pelo menos 30%. Pacientes com tumores pT1c e níveis de sTIL iguais ou superiores a 50% tiveram um resultado excelente, com um BCSS em 10 anos de 95% sem quimioterapia e um BCSS em 10 anos que aumentou para 98% se os níveis de sTIL fossem 75% ou mais. No geral, os pacientes com tumores pT1ab tiveram bons resultados, e os níveis de sTIL nos pontos de corte pré-especificados não foram associados ao BCSS neste subconjunto. Esses resultados apoiam o uso do nível de sTIL como biomarcador na seleção de pacientes com TNBC em estágio I para os quais a quimioterapia pode ser otimizada, preservando excelentes resultados.


Autor(a)

Paulo Tenório
Médico Mastologista pela FMUSP/SP

Mastologista do Programa Cuidar do Hospital Israelita Albert Einstein; Mastologista da Clínica Femi em Alphaville/SP; Membro da Comissão de Educação Continuada da Sociedade Brasileira de Mastologia-SP