Linfócitos infiltrantes de tumor em Câncer de Mama Triplo-negativo

Atualizado em 09/04/2024


Pacientes com câncer de mama triplo-negativo (TNBC) apresentam taxas mais altas de recorrência e mortalidade em comparação com tumores positivo para receptores hormonais ou para HER2. Devido a isso, a quimioterapia adjuvante ou neoadjuvante é recomendada para a maioria dos pacientes com TNBC em estágio inicial. Os níveis de linfócitos infiltrantes de tumor (TIL) são marcadores de uma resposta imune antitumoral ativa. Pacientes com TNBC em estágio inicial e altos níveis de TIL no tecido do câncer de mama possuem uma sobrevivência mais longa após a quimioterapia adjuvante e taxas mais altas de resposta patológica completa após a quimioterapia neoadjuvante, em comparação com aqueles que têm níveis de TIL mais baixos. No entanto, as associações de TIL em TNBC com as taxas de recorrência e mortalidade entre as mulheres que não receberam quimioterapia permanecem incertas. Este estudo avaliou a associação dos níveis de TIL com a sobrevivência entre pacientes com TNBC em estágio inicial tratados com terapia locorregional e não expostas à quimioterapia adjuvante ou neoadjuvante.


Foram analisamos retrospectivamente dados de 1966 mulheres com TNBC EC I-III que receberam terapia locorregional, mas não quimioterapia entre 1979 e 2017. O desfecho primário foi a sobrevida livre de doença invasiva (iDFS). Os desfechos secundários incluíram sobrevida livre de recorrência (RFS), sobrevida livre de doença a distância (DDFS), sobrevida livre de recidiva a distância (DRFS) e sobrevida geral.


Em um acompanhamento médio de 18 anos, a idade média no diagnóstico foi de 56 anos, e 41% tinham menos de 50 anos. A maioria dos tumores eram T1 (60%) ou T2 (36%), sem envolvimento de linfonodos (87%) e em estágio I (55%). Entre os pacientes com TNBC E I, 65% tinham tumores T1cN0. A mediana da porcentagem de níveis de TIL foi de 15%. 34% tinham níveis de TIL de 30% ou mais, e 21% tinham 50% ou mais. Níveis mais altos de TIL foram associados a uma idade mais jovem e um grau de tumor mais alto, mas não ao tamanho do tumor ou ao número de linfonodos envolvidos.


Os desfechos encontrados foram: iDFS, 1074 (55%); RFS, 940 (48%); DDFS, 894 (46%); DRFS, 832 (42%); e mortes, 803 (41%). Em análise multivariada incluindo idade, tamanho do tumor, status dos linfonodos, grau histológico e recebimento de radioterapia, níveis mais altos de TIL foram associados a uma melhor iDFS, RFS, DDFS, DRFS e sobrevida global. Cada aumento de 10% nos níveis de TIL foi associado a um risco 8% menor de iDFS, um risco 10% menor de RFS, um risco 13% menor de DDFS, um risco 13% menor de DRFS e um risco 12% menor de morte.



Em 10 anos, pacientes com maior abundância de TILs tiveram uma menor incidência cumulativa de recidiva à distância ou morte. No geral, pacientes com TNBC em estágio I apresentaram uma RFS de 5 anos de 77%, DRFS de 82% e sobrevida global de 85%. Entre os pacientes em estágio I com níveis de TIL de 50% ou mais, a RFS de 5 anos foi de 89%, DRFS foi de 94% e a sobrevida global foi de 95%, enquanto para pacientes com níveis de TIL de menos de 30%, a RFS de 5 anos foi de 73%, DRFS foi de 78% e a sobrevida global foi de 82%.



Entre os pacientes com TNBC que não receberam quimioterapia, níveis mais altos de TIL foram associados a melhores resultados clínicos, independentemente da idade, tamanho do tumor, status dos linfonodos e grau histológico. Níveis mais altos de TIL estavam associados a uma melhor sobrevida nessas pacientes. A sobrevida em TNBC T1b-cN0 diferiu de acordo com os níveis de TIL. Segundo esse estudo, níveis de TIL de 50% ou mais identificou pacientes com taxas de RFS, DRFS e sobrevida global de 5 anos se aproximando ou excedendo 90%, mesmo sem quimioterapia. Esses dados sugerem que quimioterapia pode ter um efeito limitado na redução adicional de recorrência e mortalidade nessa população. No entanto, são necessários mais estudos.


Além disso, devemos considerar as principais limitações do estudo referida pelos autores que são o fato de ser uma análise retrospectiva e dados observacionais, ausência de informações quanto a presença de mutações germinativas, tratamentos realizados há anos atrás e falta de dados quanto a raça ou etnia.


Autor(a)

Paulo Tenório
Médico Mastologista pela FMUSP/SP

Mastologista do Programa Cuidar do Hospital Israelita Albert Einstein; Mastologista da Clínica Femi em Alphaville/SP; Membro da Comissão de Educação Continuada da Sociedade Brasileira de Mastologia-SP