Omissão de Radioterapia após Cirurgia Conservadora em Câncer de Mama Luminal A

Atualizado em 05/09/2023

Whelan TJ et al. N Engl J Med 2023;389:612-9


A cirurgia conservadora da mama é a preferida pela maioria das mulheres com câncer de mama inicial. A radioterapia é comumente administrada após essa cirurgia para reduzir o risco de recorrência local e evitar a mastectomia. No entanto, a radioterapia é inconveniente, custosa e causa efeitos colaterais de curto e longo prazo. Nos últimos anos, a recorrência local diminuiu devido a tumores menores, técnicas cirúrgicas melhores e terapia sistêmica adjuvante eficaz. Surge a questão sobre omitir a radioterapia em pacientes de baixo risco. Fatores clínico-patológicos são limitados na identificação desses pacientes. Subtipos genéticos intrínsecos do câncer de mama podem prever resultados. O subtipo luminal A, menos proliferativo, foi associado ao melhor prognóstico. Um estudo anterior mostrou que a classificação desse subtipo pode prever o risco de recorrência local. Desta forma, o estudo atual visou avaliar prospectivamente a utilidade dessa abordagem para identificar pacientes de baixíssimo risco de recorrência local após cirurgia conservadora da mama e terapia endócrina, sem radioterapia.


Este estudo prospectivo multicêntrico, chamado Lumina e apresentado pela primeira vez em San Antonio 2022, investigou mulheres com mais de 55 anos, com câncer de mama invasivo (T1N0), tumores ER e PR positivos, HER2 negativos, cirurgia conservadora e margens de 1 mm. Resultados indicaram baixa taxa de recorrência local em 5 anos, justificando a exclusão da radioterapia nessas pacientes.


Durante um período de quatro anos, de agosto de 2013 a julho de 2017, 500 pacientes com um índice de Ki67 de 13,25% ou menos foram consideradas com câncer de mama luminal A. As pacientes tinham uma idade média de 67,1 anos, e a maioria dos tumores tinha entre 0,5 e 2 cm. A terapia endócrina foi administrada, principalmente com inibidores de aromatase (59%) ou tamoxifeno (41%), e a maioria continuou o tratamento ao longo dos cinco anos.


Gráficos


No período de 5 anos após a inclusão no estudo, 10 pacientes apresentaram recorrências locais do câncer de mama, resultando em uma incidência cumulativa de 2,3%. Todas essas recorrências foram invasivas, sendo 6 no leito cirúrgico prévio, e 4 em outras partes da mesma mama.


Uma análise de sensibilidade foi feita para considerar a incidência de recorrência nas pacientes que abandonaram o estudo. Isso levou a uma incidência de recorrência de 2,5% em 5 anos. Além disso, foram observados 8 casos de câncer na mama contralateral, todos invasivos, com uma incidência cumulativa de 1,9% em 5 anos.


No geral, a sobrevida livre de doença em 5 anos foi de 89,9%, e a sobrevida geral em 5 anos foi de 97,2%, com um total de 13 óbitos, sendo apenas 1 deles relacionado ao câncer de mama.


Ao longo de 40 anos, a eficácia da radioterapia pós-operatória foi confirmada, mas este estudo buscou identificarpacientes com risco mínimo de recorrência local para assim se evitar os efeitos colaterais da radioterapia. Usandoanálises de subtipos moleculares e fatores clínico-patológicos, os pesquisadores identificaram um grupo de mulheres comidade acima de 55 anos, com tumores pequenos, grau 1 ou 2, que poderiam evitar a radioterapia após cirurgia conservadorae terapia endócrina. Resultados mostraram incidência muito baixa de recorrência local em 5 anos, validando a abordagem.

Autor(a)

Paulo Tenório
Médico Mastologista pela FMUSP/SP

Mastologista do Programa Cuidar do Hospital Israelita Albert Einstein; Mastologista da Clínica Femi em Alphaville/SP; Membro da Comissão de Educação Continuada da Sociedade Brasileira de Mastologia-SP