De-escalonamento do tratamento axilar em biópsia positiva de linfonodo sentinela em câncer de mama cT1–2 N0 tratado com mastectomia: estudo de registro nacional (BOOG 2013-07)

Atualizado em 25/04/2024


No câncer de mama com axila clinicamente negativa, a dissecção axilar foi substituída pela biópsia do linfonodo sentinela (SLNB), com base nos resultados de ensaios clínicos importantes desde o NSABP B-32. O ensaio clínico randomizado holandês BOOG 2013-07 foi, devido à falta de recrutamento, encerrado em 2017. Os resultados de 5 anos são apresentados agora em publicação com relação à segurança oncológica de omitir a dissecção axilar em pacientes submetidas a mastectomia e com metástase de SLN.


Os critérios de inclusão foram mulheres com pelo menos 18 anos, com câncer de mama invasivo unilateral cT1–2 N0 tratadas com mastectomia, com um máximo de três metástases em linfonodo sentinela (pN1mi–pN1a). A ausência de metástases em linfonodos no momento do diagnóstico foi baseado em exame de ultrassom e confirmado com uma aspiração por agulha fina negativa ou biópsia por agulha grossa se houvesse linfonodos suspeitos. O desfecho primário foi a taxa de recorrência regional (RR) de 5 anos.


1090 mulheres foram elegíveis para análises no registro nacional holandês. A idade média foi de 60 anos. A maioria dos tumores era RH+/HER- (81,3%), grau 2 (56,0%) e/ou cT2 no diagnóstico (52,5%). O número médio de SLNs excisados foi de 2. Após o SLNB, 73,6% dos pacientes tinham doença pN1a(sn) e 26,4% tinham doença pN1mi(sn). A maioria dos pacientes (80,0%) tinha apenas um SLN com metástase. Quimioterapia adjuvante foi administrada a 633 (58,1%), terapia endócrina a 925 (84,9%) e RT adjuvante da parede torácica a 434 (39,8%) de 1090 pacientes.


219 pacientes (20,1%) não receberam dissecção axilar, 437 (40,1%) foram submetidas a ALND de conclusão, 327 (30,0%) receberam RT regional e 107 (9,8%) foram submetidas a ALND de conclusão e RT regional. Os pacientes que não receberam dissecção axilar tinham 75 anos ou mais, e tumores de grau 1, pN1mi(sn) e um máximo de um SLN positivo.


Em um acompanhamento médio de 6 anos, a taxa global de RR de 5 anos foi de 1,3% (IC 95% 0,8 a 2,2). As taxas de RR de 5 anos para os grupos que não receberam tratamento axilar completo, ALND de conclusão e RT regional foram de 2,5% (0,9 a 5,4), 1,4% (0,6 a 2,9) e 1,0% (0,3 a 2,6), respectivamente. Não houve diferenças estatisticamente significativas entre os grupos. As taxas globais de RFi e OS de 5 anos foram de 89,5% (87,5 a 91,3) e 86,6% (84,4 a 88,5), respectivamente.


Destaca-se nesse estudo o fato do seu desenho, baseado na população, fornecer uma visão geral da prática clínica de mundo real no cuidado do câncer de mama holandês. Uma limitação é a heterogeneidade entre os grupos e a falta de dados de co-morbidade, o que impede a formulação de conclusões firmes. No entanto, os resultados demonstraram resultados comparáveis a todos os dados disponíveis, e enfatizaram a importância de se considerar fatores como idade e saúde geral ao decidir sobre estratégias de tratamento. Outra limitação é o tempo de acompanhamento médio relativamente curto de 6 anos para recorrência para uma coorte compreendendo 91,3% de pacientes com câncer de mama RH+. Por fim, não foram disponibilizados dados sobre fatores que desempenharam um papel na tomada de decisão quanto às estratégias de tratamento axilar.


Autor(a)

Paulo Tenório
Médico Mastologista pela FMUSP/SP

Mastologista do Programa Cuidar do Hospital Israelita Albert Einstein; Mastologista da Clínica Femi em Alphaville/SP; Membro da Comissão de Educação Continuada da Sociedade Brasileira de Mastologia-SP