Rastreamento complementar de câncer de mama em mulheres com mamas densas e mamografia negativa: uma revisão sistemática e meta-análise

Atualizado em 03/03/2023

INTRODUÇÃO

A mamografia é hoje o exame de imagem padrão para rastreamento do câncer de mama e é o único associado à redução da mortalidade câncer-específica. Hoje, com os equipamentos mais modernos e a mamografia digital, as taxas de detecção podem chegar a 98% em mamas adiposas e cair para 30-48% em mamas extremamente densas. Esse dado é de extrema importância, pois 47% da população apresenta mamas densas e esse é um fator independentemente de risco para o desenvolvimento do câncer de mama. Assim, as mamas densas seriam um fator de maior risco para o câncer e menor chances de detecção precoce pela mamografia.



Novos métodos foram adicionados para o rastreamento desse grupo de mulheres em especial: ultrassonografia (US) portátil, a ultrassonografia automatizada, tomossintese e a ressonância nuclear magnética (RNM). Todos esses métodos adicionariam na detecção uma taxa de 2 a 2,7 tumores em 1000 exames; exceto a RNM que levaria a um adicional de 15.5 por 1000 exames em mulheres de risco intermediário. Porém, trial recente (DENSE Trial Group, Veenhuizen SGA et al, 2021) encontrou um adicional de apenas 5.8 por 1000 exames no uso da RNM.


Apesar das crescentes evidências do benefício potencial dessas modalidades no rastreamento, existem limitadas diretrizes que recomendam explicitamente o uso de qualquer uma dessas modalidades no rastreamento em mulheres com mamas densas e mamografia negativa. Portanto, o objetivo desse estudo foi conduzir uma revisão sistemática e meta-análise comparando as medidas de desempenho dos métodos de imagem e rastreamento mais comuns disponíveis em pacientes sem alto risco com mamas densas e mamografia negativa.


MÉTODOS

Foram analisados estudos conduzidos até março de 2020 nas bases Medline, Epub Ahead of Print and In-Process and Other Non-Indexed Citations, Embase Classic and Embase, Cochrane Central Register of Controlled Trials, e Cochrane Database of Systematic Reviews para Ensaios Controlados Randomizados e Estudos Observacionais Prospectivos. Foram obtidas as taxas adicionais de detecção de câncer (CDR); valor preditivo positivo de reconvocação (PPV1); valor preditivo positivo das biópsias realizadas (PPV3); e CDRs de intervalo dos exames de imagem suplementares tomossíntese, US portátil, US automatizado e ressonância magnética em pacientes sem alto risco com mamas densas e mamografia negativa para câncer.


RESULTADOS

Os autores selecionaram 22 estudos compatíveis, totalizando 261.233 pacientes rastreados, sendo que 132.166 possuíam mamas densas e mamografia de rastreamento negativas para câncer de mama. No total foram perdidos 541 cânceres na mamografia, cujo os mesmo foram detectados em exames de imagem complementares. As taxas de adição em CDR na RNM foram de 25,7% (95% IC 17.4,37.9), US portátil 4,3% (95% IC 2,6 , 7,0), US automatizada 4,3% (95% IC 1,7 , 10,8) e tomossíntese 4,8% (95% IC 3,1 , 7,7). Nem todos os estudos documentaram o tamanho tumoral encontrado, porém o menor tumor com linfonodos negativos foi detectado na RNM de 9,5 mm, no US portátil 11,83 mm, tomossíntese 13 mm e US automatizada de 16,3 mm.

Modelos de meta-regressão usando a mamografia como referência mostraram que a RNM foi superior que os outros métodos em adição no CDR de 1,54 por 1000 exames (p<0.001), incluindo carcinoma invasivo em 1,31 por 1000 exames (p<0.001) e carcinoma ducal in situ em 1,91 por 1000 exames (p<0.04). Já os outros exames encontraram taxas de: US portátil -0.35 (p=0.11), US automatizado -0,26 (p=0.51) e tomossíntese -0,14 (p=0.51).

Excluindo a RNM, não houve diferença estatística em qualquer análise entre os demais métodos de imagem.


Não houve diferença em PPV1 e PPV3, porém devemos levar em consideração o número menor de estudos incluídos abordando a RNM exclusivamente. Comparando esses parâmetros da RNM com os demais métodos de imagem, a RNM apresentou PPVs maiores; o que já sabemos em relação às suas taxas de falso positivos ocasionando biópsias e exames adicionais.


CONCLUSÃO

Os dados dessa meta-análise, então, demostraram que a RNM foi a melhor modalidade de exame de imagem suplementar em mulheres com risco para câncer de mama habitual ou intermediário, apresentando mamas densas e mamografia negativa ao rastreamento. Devemos considerar algumas limitações do estudo que foram a exclusão de estudos retrospectivos, definição de densidade mamária unicamente de forma visual e a limitação já conhecida da tomossíntese em mamas extremamente densas; o que poderia de alguma forma influenciar os resultados.

Autor(a)

Paulo Gustavo Tenório do Amaral
Médico Mastologista pela FMUSP/SP

Membro da Comissão de Educação Continuada da SBM - Regional SP