Tratamento Mastite Lactacional

Atualizado em 22/03/2021

O objetivo  do tratamento da mastite é providenciar um manejo oportuno e adequado a fim de prevenir a  mastite complicada com abscesso mamário.

Esvaziamento eficaz e correto da mama é mandatório para sucesso do tratamento,  as mães devem ser encorajadas a amamentar mais frequentemente começando pela mama afetada e sempre ordenhar ( manual ou com bomba)  caso permaneça leite nas mamas, mantendo-as sempre esvaziadas.

A amamentação deve continuar frequente (por exemplo, amamentar de 8 a 12 vezes por dia) a fim de promover a remoção efetiva do leite. Também pode extrair o leite do lado afetado, caso indicado, e/ou massagear, se tolerado.

Se  a mama estiver ingurgitada, fazer massagem circular nos locais enrijecidos iniciando próximo da aréola e depois em direção a parte distal da mama, para que o bebê consiga realizar a pega correta o mamilo necessita estar flexível ou seja sem leite na projeção da aréola.

O uso de óleos  "comestíveis"  facilita a massagem e a fluidificação do leite por transferência de energia cinética, utilizada para rompimento das interações intermoleculares que se estabelecem no leite acumulado no interior da mama, além de estimular a síntese de ocitocina necessária ao reflexo de ejeção do leite.

Quanto ao posicionamento do bebê , deve ser diagonal com quadrante acometido ( exemplo: se o QSL acometido, bebê deverá estar como queixo no QIM ).


Em relação às compressas, não há comprovações científicas categóricas quanto seus benefícios, mas na prática, ela auxilia se bem aplicada.

Na mastite,  a compressa  quente ou morna é proibida.

Caso a  mama estiver quente e dolorida pode ser utilizada compressa fria que promoverá redução do edema devido a vasoconstrição e melhora da dor.

Geralmente as compressas frias são utilizadas para reduzir o fluxo lácteo ou ingurgitamento, no entanto se a mama estiver muito cheia, a vasoconstrição aumentará a dor e pode tornar difícil a expressão do leite além de poder  causar efeito rebote de vasodilatação, com piora  do ingurgitamento.
 

O risco do uso de compressas frias é a ocorrência de lesão por congelamento. Para evitar acidentes, podemos utilizar  "compressas de folhas de repolho verde".  Muito simples de realizar , basta lavar e secar algumas folhas de repolho verde. Colocar cada folha dentro de um saquinho plástico, levar ao congelador e retirar após 30 minutos ( tempo necessário para congelamento). Então é só retirar do saquinho e colocar uma folha sobre cada mama cortando a área do mamilo para que o mesmo  fique exposto.

As folhas devem ficar sobre as mamas até descongelarem e chegarem à temperatura ambiente. Depois do uso, devem ser descartadas. Essa compressa pode ser repetida algumas vezes ao dia e não vai prejudicar em nada a amamentação.

Podemos favorecer o escoamento lácteo em mamas ingurgitadas através do uso de  Ocitocina nasal (1 puff em cada narina 2 a 5 minutos antes das mamadas Syntocinon spray).


Nos casos de grande produção de leite (hipergalactia), oriente apenas ordenha de alívio e coloque um top que contenha a mama ou faixa que fique justa (sem apertar). A ordenha ampla das mamas promoverá maior descida de leite neste caso, então não é indicada.

A utilização do laser terapêutico de baixa intensidade e a luz de LED vem sendo bastante utilizado no tratamento das fissuras mamilares.
 

No entanto, ainda existem poucos estudos voltados para esta tecnologia na mastite, já que a maioria dos estudos com laser de baixa potência é focada em feridas em geral que visam a melhora do processo inflamatório, edema e cicatrização.


A acupuntura parece auxiliar na diminuição dos sintomas do ingurgitamento mamário mas não dispomos de estudos robustos sobre o assunto validando a eficácia de sua prática.

A bandagem elástica funcional (kinesio tape) não tem eficácia comprovada, portanto não faz parte do tratamento do edema, ingurgitamento, dor mamária e mastite.


TRATAMENTO MEDICAMENTOSO


O uso empírico de antibióticos tem sido, e ainda é, a abordagem mais comum para tratar mastite. No entanto, muitos casos não respondem a essa terapia, uma vez que os agentes de mastite estão se tornando cada vez mais resistentes aos antimicrobianos por meio de diferentes mecanismos, incluindo resistências intrínsecas, presença de genes transmissíveis de resistência a antibióticos e/ou formação de biofilmes(8).

 As altas taxas de resistência antimicrobiana entre as bactérias causadoras de mastite têm relevância clínica em relação às opções de tratamento. Além disso, antibióticos de amplo espectro podem alterar a composição bacteriana do leite, prejudicando a transmissão vertical de micróbios através do aleitamento materno. Portanto, novas estratégias para o manejo da mastite são necessárias, e nesse contexto, aquelas baseadas na modulação das comunidades bacterianas mamárias através da seleção e aplicação de cepas probióticas que foram originalmente isoladas do leite humano parecem  adequadas,(9).

Dessa forma preferimos, em um estágio inicial, manejar o quadro clínico com sintomáticos (analgésicos e anti inflamatórios).

No entanto, os antibióticos serão necessários caso a dor se agrave ou dure mais de 12 a 24 horas associado a hiperemia  e sintomas sistêmicos (6)(2)(10). 


Os dados para tratamento de mastites são bastante limitados e o tratamento empírico inclui antibióticos que incluem atividade para o S.aureus.


O tempo de tratamento não é certo mas 10 a 14 dias parece reduzir reinfecções e ciclo de  7 dias pode ser utilizado se resposta for rápida, completa e na ausência de abscesso.


Na mastite simples, sugerimos  via oral:

Primeira opção:


    ⮚ Cefadroxila 500mg 12/12 horas podendo utilizar de 8/8h ou 6/6 horas


Segunda opção:


    ⮚ Cefuroxima ( Zinnat) 250mg a 500mg de 12/12 horas

    ⮚ Cefaclor ( Ceclor ) 250 a 500mg de 8/8h

    ⮚ Clindamicina ( Dalacin C ) 300 a 600mg  de 6/6 horas


OBS: Cefalexina, Amoxicilina e  Clavulanato: a sua utilização deve ser evitada empiricamente devido ao alto risco de resistência bacteriana.


Essas drogas são consideradas seguras durante a lactação, pois as quantidades excretadas no leite são mínimas devido a sua alta taxa de ligação com as proteínas plasmáticas maternas.

A manutenção da amamentação está indicada, porque o leite materno é rico em anticorpos e fatores antibacterianos e as toxinas das bactérias quando ingeridas são destruídas no tubo digestivo do RN.


A infecção por MRSA  (S aureus meticilina resistente) têm aumentado em muitas regiões e os padrões de resistência local precisam ser considerados. (1)


As pacientes  mais susceptíveis a esses patógenos  são  HIV + , drogadictas e imunossuprimidas.

Nesses casos sugerimos:


    ⮚ Clindamicina 300 a 600mg 6/6 horas


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


1. Russell SP, Neary C, Abd Elwahab S, Powell J, O’Connell N, Power L, et al. Breast infections – Microbiology and treatment in an era of antibiotic resistance. Surgeon. 2020 Feb 1;18(1):1–7. 


2. Amir LH. ABM clinical protocol #4: Mastitis, revised March 2014. Breastfeed Med. 2014; 


6. Organization WH. Mastitis causes and Mangaement. Who. 2000. 


8. Marín M, Arroyo R, Espinosa-Martos I, Fernández L, Rodríguez JM. Identification of emerging human mastitis pathogens by MALDI-TOF and assessment of their antibiotic resistance patterns. Front Microbiol. 2017; 


9. Fernández L, Ruiz L, Jara J, Orgaz B, Rodríguez JM. Strategies for the preservation, restoration and modulation of the human milk microbiota. Implications for human milk banks and neonatal intensive care units. Front Microbiol. 2018; 


10. Blackmon M et al. Acute Mastitis - Review [Internet]. State Pearls. 2020. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK557782/

Autor(a)

Dra. Mayka Volpato dos Santos Vello
Mastologista pela Irmandade da Santa Casa de São Paulo

Preceptora da Residência Médica de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Santa Marcelina - São Paulo