Cinco anos consecutivos de rastreamento com Tomossíntese Mamária Digital

Atualizado em 24/04/2020

Introdução:


O rastreamento com tomossíntese mamária digital é associado ao aumento da detecção do câncer de mama e redução de convocação por falsos positivos comparado ao rastreamento isolado com mamografia digital. Entretanto, o impacto da tomossíntese mamária digital varia de acordo com a população estudada. De todas as maneiras, os melhores resultados alcançados com a tomossíntese são atribuídos à melhor visualização de lesões malignas e benignas e diminuição da superposição de tecidos, obtido com o formato quase tridimensional da imagem. O objetivo do estudo é comparar taxas de reconvocação, de detecção de câncer, recomendação de biópsias, valores preditivos positivos das reconvocações, valores preditivos positivos das biópsias realizadas, taxas de falso-negativos e biologia, tamanho e status linfonodal dos rastreamentos positivos e cânceres de intervalo através de sucessivos anos de rastreamento de Tomossíntese Digital Mamária versus mamografia digital.


Material e Métodos:


Estudo de análise retrospectiva que consiste de uma população de mulheres de 40 anos ou mais, submetidas ao rastreamento mamográfico no Perelman Center for Advanced Medicine, no Hospital Universitário da Pensilvânia, na Filadélfia de 1 de setembro de 2010 a 30 de setembro de 2016. Nenhuma paciente possuía antecedente pessoal ou sinais e sintomas de câncer de mama. De 01 de setembro de 2010 a 30 de agosto de 2011 todas as pacientes foram rastreadas com mamografia digital, apenas (DM). De 01 de outubro de 2011 a 30 de setembro de 2016, o rastreio foi feito com tomossíntese mamária digital (DBT). De 01 de outubro de 2011 a 06 de janeiro de 2015, a tomossíntese mamária digital foi realizada com a mamografia digital (DM/DBT) e de 07 de janeiro de 2015 até 30 de setembro de 2016, todo o rastreio foi realizado com mamografia sintética e tomossíntese mamária digital. Todos os exames foram avaliados por um dos oito radiologistas especializados em imagem mamária (de 8 a 27 anos de experiência), utilizando a quarta edição do BIRADS. A data exata da mudança de categorização da densidade mamária utilizada na quinta edição do BIRADS é desconhecida, porém ocorreu em algum período após 2014. Raça/etnia foi auto-reportada. Os diagnósticos de câncer estavam disponíveis no registro estadual com um 1 ano de acompanhamento com todos os exames. O exame de rastreamento positivo era definido como categoria final 0, 3, 4 ou 5. Taxa de reconvocação foi definida como a proporção de todos os exames positivos. Taxa geral de câncer foi definida como o número de exames em que o câncer foi diagnosticado dentro de 1 ano de rastreamento. Taxa de recomendação de biópsia foi definida como a proporção de exames com a recomendação de biópsia após a reconvocação. Taxa de detecção de câncer foi definida como o número de exames de rastreamento positivos em que o câncer foi diagnosticado posteriormente dentro de 1 ano. A taxa de falso negativo foi definida como a proporção de exames negativos em que o câncer foi diagnosticado dentro de 1 ano. Valor preditivo positivo das reconvocações (PPV1) foi definido como a proporção de exames com câncer entre aqueles de rastreamento positivo e valor preditivo positivo de biópsias realizadas (PPV3) foi definido como o número de exames com câncer dentre aqueles em que biópsias foram realizadas. A avaliação de sensibilidade e especificidade foram determinadas por definições padrão. Cânceres foram classificados como invasivo e in situ baseados em dados registrados.


Resultados / Discussão:


A população estudada consistiu em 67350 exames, sendo 10511 mamografias digitais e 56839 tomossínteses mamárias digitais, realizadas em 29310 mulheres. A média de idade foi de 54 anos. A taxa de reconvocação foi significativamente menor para o grupo da tomossíntese (8% IC 95%: 7,7 – 8,2) do que para p grupo da mamografia (10,4% IC 95%: 9,8 – 1,0) p <.001. A taxa de detecção de câncer foi mais alta no grupo da tomossíntese comparado ao grupo da mamografia (6,0 por 1000 mulheres X 5,1 por 1000 mulheres), porém sem significância estatística. Mesmo a nível populacional, ambas as taxas de reconvocação e de detecção de câncer permanecem melhores no grupo da tomossíntese. Taxas de falso negativo são ligeiramente menores no grupo da tomossínte (0,6 por 1000 mulheres) comparado ao grupo da mamografia digital (0,9 por 1000 mulheres), sem significância estatística. Em análises ajustadas, taxa de reconvocação, taxa de recomendação de biópsia e valor preditivo positivo de reconvocação foram melhores para o grupo da tomossíntese versus grupo da mamografia (p ≤.001). Comparado com a mamografia digital, uma maior proporção de câncer detectado pela tomossíntese foi invasivo (70% x 68,5%) e com características de pior prognóstico (32,6% x 25%). A tomossíntese mamária digital está sendo rapidamente implementada como a mais nova e melhor técnica mamográfica, apesar de dados limitados de resultados a longo prazo. Embora o rastreamento pela tomossíntese tem detectado mais cânceres, a maioria é do subtipo luminal A, associado a um melhor prognóstico. Estudos que avaliam subtipos de câncer detectados por tomossíntese versus mamografia digital são, em sua maioria, baseados no primeiro rastreamento (screening de prevalência), podendo a análise ser tendenciosa, devido ao rastreio de população mais sensível ao método. Além disso, os estudos anteriores têm tido menor diversidade de pacientes e podem não refletir a diversidade dos subtipos de câncer manifestados em diferentes raças e idades. Diversas limitações devem ser consideradas no presente estudo: todas as informações são provenientes de uma única instituição acadêmica e os resultados podem não ser traduzidos para outras práticas. Além disso, não foram detalhadas informações de risco em todas as pacientes durante o longo período do estudo. Embora dados adicionais e maior tempo de seguimento sejam necessários para sustentar os resultados, as conclusões do estudo suportam o uso da tomossíntese como rastreamento mamográfico de rotina.

Autor(a)

Dra. Máryam Arbach
Grupo Intermédica

Mastologista do Hospital Renascença Campinas