Lesões Precursoras do Câncer de Mama
A mama é um órgão caracterizado pela presença de glândula e tecido de sustentação. A glândula mamária do ponto de vista anatômico trata-se de pequenas unidades produtoras de leite (lóbulos) e estruturas que drenam essa produção que se equivalem a um sistema de encanamento (ductos). A maior parte das doenças da mama acontecem nesse sistema de ductos mamários seguidos das lesões nos lóbulos.
Quando há um crescimento de células semelhantes às células mamárias dentro dessas estruturas, esse achado recebe o nome de Hiperplasia Típica ou Usual. Esse grupo de alterações não aumentam o risco do câncer de mama.
Quando as células apresentam um padrão diferente do normal esse achado se chama Hiperplasia Ductal Atípica (se ocorrer dentro do ducto) ou Hiperplasia Lobular Atípica (se ocorrer dentro do lóbulo). Em ambas as situações há um aumento do risco de desenvolvimento de câncer de mama de cerca de quatro vezes quando comparada à população sem essas alterações. Do ponto de vista de diagnóstico, geralmente essas alterações são encontradas através de biópsias. Quando isso acontece existe um risco de subestimação das lesões sendo recomendado que se faça uma melhor avaliação do local com retirada total da lesão se possível.
Os chamados Carcinomas Ductal in Situ e Lobular in Situ são caracterizados por uma fase evolutiva mais avançada quando comparados às Hiperplasias Atípicas. Nesses casos as células continuam a se reproduzir preenchendo um espaço maior dentro das estruturas (ductos e lóbulos mamários) e suas células podem ser ainda mais diferentes das células mamárias normais. Nessa fase, temos achados celulares muito semelhantes ao Câncer de Mama, porém essas células estão contidas dentro do ducto ou do lóbulo, não tendo, portanto, a capacidade de se disseminar para outros locais. O Carcinoma Lobular in Situ confere um risco de desenvolvimento de câncer de mama à mulher cerca de 8 vezes maior quando comparado com a população geral, sendo um importante marcador de risco. O Carcinoma Ductal in Situ tem cerca de 50% de risco de se tornar invasor ao longo do tempo, sendo que no momento do diagnóstico até 20% dos casos podem estar associados a carcinomas invasivos.
Todas essas lesões descritas não podem ser consideradas cânceres de mama. No entanto, o fato de terem o potencial oncológico deve ser classificado como Lesões Precursoras do Câncer de Mama. Diante dessa informação cada uma dessas lesões deve ser tratada de maneira individualizada de acordo com o paciente que as apresentou. As hiperplasias atípicas e o carcinoma lobular in situ são passíveis de seguimento e uso de medicações redutoras de risco tais como inibidores de aromatase e os moduladores seletivos do receptor de estrogênio. No caso dos carcinomas ductais in situ a recomendação é de tratamento cirúrgico, podendo ser seguido de radioterapia.
Mastologista
Membro da Comissão de Genética e Alto Risco da SBM-SP